terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Dançar

O que é dança

„A dança pode ser considerada uma obra de arte totalizadora; pois ela engloba diversas artes: movimento, música, poesia/canto, rítmica, entre outros. Muitos pesquisadores até afirmam que o homem deve ter dançado antes mesmo de desenvolver a palavra falada. E se vermos a dança como mímica, então ela é também a mais antiga e até hoje única linguagem universal.“1
„A dança é uma manifestação de vida, um sinal da alegria e um meio de divertimento e prazer.“2

Porque dançamos

Motivos para dançar em época nenhuma faltaram. Desde os primórdios dos tempos a dança fez parte da vida, em suas formas mais variadas. Já os povos primitivos ainda nômades, tinham suas danças rituais de guerra, de agradecimento, proteção, assim como de fertilidade e caça. Estas eram fundadas na necessidade essencial do homem de enfrentar a natureza e na preservação da vida. Com a fixação do homem à terra, as necessidades mudaram e outros rituais foram introduzidos, como o pedido por boa colheita e o agradecimento pela mesma. Também danças de adoração aos astros como sol, lua, estrela tinham sua justificativa nas crenças da época. Estes eram importantes pois influenciavam o tempo, do qual por sua vez dependiam as colheitas, esseciais para a manutenção da vida. Assim provêm da crença de que imitando-se a forma redonda do sol a da lua, por exemplo, adquiria-se poder sobre os mesmos. Sentido e conteúdo da dança era ações com objetivo prédisposto. Dançando em círculo, acredi-tava-se ainda em tempos menos remotos, poderia induzir uma força ao centro deste, que influenciaria positivamente quem nele se encontrasse. Assim encontra-mos no século XIV, por exemplo, dança com velas ao redor de crianças recém nascidas, danças de ingresso em determinadas entidades na qual o novato permanecia no centro do círculo. Ainda hoje encontramos nos casamentos o costume de se fazer um círculo ao redor dos noivos na primeira valsa – a idéia é a mesma: dar força e proteção. Esta forma se perpetuou, e ainda hoje a principal forma de dança é em círculo. Na Bíblia também nos é relatado que o povo dançava em situações diversas. A mais conhecida é que Davi dançava de alegria perante o Senhor como agradecimento pelas graças recebidas3. Mas também temos o relato do povo que dançou adorando o bezerro de ouro, feito na ausência de Moisés, ao pé do monte Sinai4. E como motivo de festa e agradecimento, dançaram na volta do filho dado como perdido5. Nos Salmos 1496 e 1507, temos ainda a referência que a dança era feita ao som de diferentes instrumentos. Não encontramos passagens que apresentem os homens e mulheres dançando em conjunto.
Hoje a mística deixou de ser o único agente motivador para a dança. A dança tem como fundamento o carátel social. Dançamos pelo prazer, pela necessidade física do movimento, pela integração que ela nos trás. Mesmo assim ainda temos a dança como forma de cortejo, que nos permitem a aproximação em público, sem compromisso.

Volkstanz - como surgiu

Os primeiros registros de danças populares alemãs após a criação do Reino Alemão no século X, dão-se nos denominados Neidhartreigen do século XII. Estas danças eram dirigidas por um dançarino e sua parceira com cantos e gestos, que então eram imitados pelas pessoas que estavam dispostas em círculo ao seu redor8. Estas tinham também caráter cômico, imitando os cavaleiros em suas conquistas nas batalhas e com as mulheres. Com a introdução da dança festiva nos salões da nobreza no ano de 935 iniciou-se a divisão em danças populares e danças da corte. Os patrícios adotaram a dança de forma diferenciada com partes de prelúdio caminhados - polonaise, seguidas de partes mais movimentadas, estas inspiradas nas danças rodadas do povo. A Allemande do século XVI e XVII foi uma forma para a qual se desenvolveram estes prelúdios, enquanto que a segunda parte foi uma pré-etapa do que mais tarde ficou conhecido como valsa. O que hoje denominamos de dança folclórica são formas de dança que faziam parte da realidade do povo há muitos anos e que nos ficaram como herança, vindo a fazer parte da nossa realidade, mesmo que com outra conotação.

A dança popular na Alemanha

Na europa as duas grandes guerras enfraqueceram a cultura popular e assim também a dança. No início do século XX na Europa várias pessoas deste meio procuraram então revitalizar os conhecimentos escondidos, até como uma forma de dar a volta por cima do que havia acontecido e voltar aos „bons tempos“. Com isso inicio-se e trabalho de pesquisa e registro junto aos mais idosos e documentos esquecidos foram redescobertos. Em primeiro plano foram criadas regras bastante rígidas no que dizia respeito à forma de dança, vestimenta e até comportamento enquanto estiver usando o traje. Estas regras estavam baseadas em formas de como se pensava que havia sido em uma certa época, muitas vezes sem fundamentos históricos. Os jovens não entendiam esta necessidade de se apegar à regras, que muita vezes faziam questão de infringir. Eles dançavam pelo prazer da dança, pela vontade de aprender sempre novos movimentos, de executá-las, colocando suas habilidades à mostra, nos bailes populares. A intenção era mera diversão sem interesse no aspecto cultural. Com isso surgiu também um novo movimento, denominado de Jugendbewegung – Mobilização Jovem – que não só resgatou as danças populares mas também criou novas formas de danças com o intuito de chamar os jovens para dançar. Estas novas criações se deram aproveitando elementos existentes e integrando-os à músicas mais propícias a cairem no gosto dos jovens. A situação na Europa hoje, mais especificamente na Alemanha, é de que os jovens pouco se interessam pelas danças populares.

A dança folclórica alemã em Blumenau

O movimento de dança folclórica em Blumenau surgiu em 1984 com a fundação da Bvtg. Ligada ao Centro Cultural 25 de Julho, o Sr. Letzow, ex-presidente deste, tomou a frente e, após uma tentativa frustrada no ano anterior devido a enchente, fez nascer este trabalho de resgate da cultura. Na verdade foi de certa forma a introdução de uma „nova tradição“, até então inexistente. A dança era apenas cultivada no aspecto dos bailes populares. Neste mesmo ano surgiu também a Oktoberfest, da qual este grupo então já participou. Hoje Blumenau conta com 12 grupos de dança folclórica alemã, sendo que cada um deles têm uma filosofia diferente no que diz respeito a danças, trajes, tradições a serem cultivadas. A realidade dos grupos de dança folclórica hoje se dá muito mais nos termos do início do século XX na Europa: o jovem quer dançar, quer participar de um grupo mas vê isto como meio de lazer, não por interesse na cultura que este representa.

O que dança a Blumenauer Volkstanzgruppe

Sua primeira apresentação que aconteceu no dia 29 de Setembro de 1984 no Centro Cultural 25 de Julho, em uma noite que foi também abrilhantada por cantos e músicas – Bunter Abend. Nesta oportunidade foram apresentadas as seguintes danças: Klapptanz, 1,2,3 lustig ist die Schäferei, Fröhlicher Kreis, Zigeurnerpolka, Topporzer Kreuzpolka, Salzburger Dreher, Sternpolka, Siebenschritt e Henkenhagener Kegel.
O grupo hoje tem seu ponto forte nas danças da região sul da Alemanha – Bayern e Baden-Württemberg – assim como nas danças da Áustria. Uma dança que fez história no grupo foi o Untersteirer Landler, dança esta que por muitos anos foi parte integral do seu repertório. O nosso repertório se compõe de danças em pares, danças em círculo, em quadrilhas (4 pares) – Quadrille – além das chamadas danças de integração – Wechseltänze - danças de troca, na qual o público é convidado a participar. Na tentativa de melhorar sempre mais o nível das apresentações, buscamos material junto a grupos da Alemanha e da Áustria. O material hoje disponível consta de cerca 450 danças em CD com a descrição das mesmas, além de material de notas.

Como dançamos

Quando de fala em dança logo se associa música, essencial para que se possa dançar. No sul do Brasil há uma longa tradição de bailes, eventos de dança nos quais é indispensável a presença de uma banda que executa a música. Esta tradição, por exemplo, não se dá necessariamente nos bailes no Rio de Janeiro, onde muitos bailes são realizados com som mecânico. Infelizmente nos grupos de dança folclórica esta tradição não foi cultivada. Por motivos talvez de falta de possibilidades de se conseguir as notas específicas – músicos nunca faltaram - ou também de custos, a música para a dança foi executada através de recursos como fita K7 e mais tarde CD e MD. Este fato acabou deixando a dança folclórica ser algo um tanto estéril, pois a música se dá de forma mecânica enquanto a dança é expressão corporal humana, sujeita a variações à cada nova repetição. Além disto os dançarinos se acostumaram com sempre a mesma forma de execução, dificultando a dança com interpretações musicais diferentes. Há bastante tempo alguns integrantes do grupo já vinham estudando a possibilidade de se dançar com música ao vivo. A dificuldade maior estava em encontrar músicos que abraçassem esta idéia sem visar o lucro direto. Stefan Ziel tomou a frente desta idéia; reuniu notas e músicos e organizou os primeiros ensaios. O projeto foi se desenvolvendo, tomando formas concretas. Nos primeiros ensaios com o grupo houve certa dificuldade de conjugar a nova execução da música com os passos e figuras de dança já ensaiados, o que com a maior freqüência dos músicos foi se desfazendo. Assim mais uma vez a Blumenauer Volkstanzgruppe pôde ser um marco na história dos grupos de dança folclórica. Em junho de 2003, no 6o Festival Nacional de Danças Folclóricas de Blumenau – Fesfolk – o grupo fez a sua primeira apresentação com música ao vivo depois de muitos anos, dançando ao som de gaita, clarinete, pistão e baixo. Hoje tentamos levar nossa pequena banda para eventos maiores, pois envolve custos que não estão disponíveis facilmente. Patrocinadores, sejam bem-vindos...

Música


No Brasil e principalmente em Blumenau a prática da dança folcórica é baseada na música de conserva, isto é música vinda de mídias como CD, MD. Este fato muito nos deixava incomodados, ainda mais pelo fato de que outra etnias praticantes de folclore no Brasil não precisam apelar para recursos como estes. Para mudar este quadro, a Blumenauer Volkstanzgruppe no ano de 2002 iniciou um projeto de música ao vivo. Procuramos alguns músicos dedicados à cultura alemã e com estes trabalhou as músicas específicas para as danças folclóricas. O resultado foi apresentado pela primeira vez no Fetsfolk [www.fcblu.com.br/festfolk|Festfolk] daquele ano.
Hoje nossos ensaios e apresentações são sempre com a participação do nosso gaiteiro Wilson Shaade, desde então parte integrante do grupo.

Agradecimentos

Ao longo dos 20 anos da Blumenauer Volkstanzgruppe existiram muitas pessoas que colaboraram com as atividades do grupo. Foram diversas formas de apoio nas mais diversas épocas e necessidades. Foram integrantes, fundadores, presidentes do Centro Cultural 25 de Julho, pais, irmãos e irmãs, maridos e esposas, avós, patrocinadores, representantes de órgãos públicos e muitos outros. Todos estes auxílios vieram de forma voluntária o que engrandece ainda mais este trabalho. Para listarmos estes nomes aqui nesta publicação nós poderíamos correr o risco de esquecer alguém. Dentre todos os que tiveram a sua importância nós elegemos seis que mais se destacaram e que representam os demais. Em ordem alfabética citamos:

Arlindo Sasse

Sucedeu Jürgen Koenig como coordenador da Blumenauer Volkstanzgruppe, atuando até 1996. Com muita garra conduziu o grupo nos momentos mais difíceis. Promoveu a integração dos participantes com o público, marca esta que destacou o grupo em suas apresentações. Com espírito inovador introduziu características peculiares, o que tornava os ensaio e apresentações um atrativo à mais. Arquitetou a fundação de um grupo infantil e de um juvenil e promoveu o primeiro Encontro de Grupos de Dança Folclórica Infantil. Foi um verdadeiro pai para o grupo, pois a Blumenauer Volkstanzgruppe fazia parte de sua família.

Dieter Berner

O mais antigo integrante ainda ativo na Blumenauer Volkstanzgruppe. Ingressou no grupo em 1985 e desde o início se dispôs a auxiliar onde fosse necessário. Assumiu a coordenação a partir 1996, com a saída de Arlindo Sasse. Com muita garra se empenhou pelo objetivo do grupo na preservação da tradição e da cultura alemã. Incentivou também o aprendizado da língua alemã de seus integrantes. Apesar de ser brasileiro foi mais alemão que os alemães, demonstrando a importância deste trabalho na sua vida pessoal. Dedicou-se ao grupo de forma a deixar muito do seu lado pessoal na personalidade do mesmo. Também foi o idealizador da aquisição de um traje histórico para o grupo.

Ellen Vollmer

Foi de vital importância para o grupo e com uma dedicação poucas vezes reconhecida. Responsável pelos trajes usados pelo grupo durante muitos anos e atuante desde os primeiros meses da fundação, fez um trabalho invejável pois até então ninguém nunca precisou preocupar-se com trajes. Primou pela aparência impecável, pois constantemente fazia a manutenção destes, bem como sugeria alterações ou substituições. Conseguiu inúmeras doações onde se incluem vários trajes vindos da Alemanha. Ganhou o título de Mãe da Blumenauer Volkstanzgruppe.

Erica Saur

Professora formada em dança pela Universidade do Rio de Janeiro, sempre fez um trabalho primoroso durante os anos em que esteve no grupo, fazendo com que este tivesse uma postura impecável nas apresentações. Com uma disciplina exemplar e assiduidade constante, foi nossa maestrina, pois com muita paciência conseguiu lapidar uma pedra bruta num diamante. Responsável pelas coreografias (Tanzbeschreibungen), música e área técnica, introduziu a postura do “Volkstänzer” com todos os seus detalhes. Aqueles quem tiveram o prazer de receber os conselhos técnicos da Professora Erica Saur podem se sentir agraciados, pois dificilmente terão esta oportunidade novamente com tanta riqueza de informações. Também foi a responsável pela criação do nosso atual regimento interno, instrumento este que rege a disciplina e as atividades dentro do grupo.

Harold Letzow

Fundador da Blumenauer Volkstanzgruppe, que pelo seu espírito de persistência e idealização formou a semente dos grupos folclóricos alemães em Blumenau. Defensor da cultura alemã, observa com atenção o trabalho executado pelo grupo que também ao longo dos seus 20 anos foi grande incentivador. Faz um trabalho, muitas vezes pouco reconhecido, de manter viva a identidade cultural alemã em nossa cidade através de eventos, encontros culturais e como incentivador de manifestações culturais autênticas. Fazendo jus ao seu trabalho, recebeu por parte do poder público o título de Embaixador da Oktoberfest.

Jürgen Koenig

Com muito arrojo e determinação colocou em prática a idéia da formação de um grupo folclórico em Blumenau, onde até então quase ninguém jamais teria visto ou ouvido algo parecido. Foi um ato pioneiro em um país e numa época em que praticamente não se tinha acesso à fontes de material e informação, como ocorre hoje em dia. A dificuldade em conseguir alguns interessados também foi muito grande, pois até então dançar, para os jovens, não era coisa para homem. Sabemos que foi ele o responsável por alavancar o 17o grupo folclórico alemão no Brasil, onde atualmente existem mais de 300. Foi o seu primeiro coordenador e responsável pelo início das atividades do grupo.

Traje Folclórico

Por definição, traje é um conjunto de vestes típicas de uma região, província ou povo, que foi usado em determinada época, ou que é privativo de uma certa classe. Um traje folclórico além disso é manifestação espiritual, material e cultural do povo. Para se estudar o traje de uma região é necessário considerar todos os fenômenos sociais, pelos quais o povo desta região passou através dos tempos. Reflete-se na indumentária dos indivíduos:
  • a linha filosófica ditava a rigidez do traje tanto nas suas regras de feitio como de uso. Estes aspectos eram basicamente influenciados pela religião ou por regulamentações legais (Kleiderordnung);
  • as condições econômicas restringiam a aquisição dos tecidos nobres, a quantidade de tecido usado, quantidade de botões ou outros adornos. O traje sempre foi um símbolo do status social de seu portador;
  • fatos históricos como as invasões e a resistência dos povos na substituição de costumes introduzidos;
  • a moda que, mesmo não sendo subjugado a mudanças com ciclos anuais, algumas peças com o tempo saem de uso e outras tomam seu lugar;
  • distância e dificuldades de acesso aos mercados de importação;
  • a tecnologia da época e os conhecimentos artesanais;
  • adequação do traje às vivências, ao clima e às condições de trabalho.
Isto aplica-se especialmente para os trajes típicos alemães. Como a nação alemã é relativamente jovem (130 anos), existem muitas e fortes diferenças regionais. Um traje sempre só pode ser chamado típico para uma região relativamente pequena - geralmente só do tamanho do Médio Vale do Itajaí - e com um número bastante restrito de pessoas. Assim o traje alemão autêntico revela para o conhecedor inúmeras informações sobre seu portador:
  1. a região de proveniência
  2. a cidade/aldeia onde mora
  3. as condições econômicas atuais
  4. a posição social dentro da comunidade
  5. o estado civil (solteiro/a, casado/a, viúvo/a, viúvo/a e disposto a casar de novo)
  6. a condição de luto (Luto, meio-luto)
  7. o motivo das saída de casa (Visitar a igreja em altas festas, Culto dominical, Casamento, primeira Comunhão, Confirmação, Viagem, Trabalho, ...)
Assim se explica porque os imigrantes alemães chegaram aqui sem um “traje nacional”. Ou eles se vestiram de modo “moderno” ou com um traje que não tinha validade na realidade do mundo novo.
Com as crescentes atividades na área da dança folclórica alemã aumentou o interesse pelas tradições alemãs e especialmente por vestes adequadas para a atividade da dança. Com a tradição rompida há mais de 100 anos, muitos grupos e também a Blumenauer Volkstanzgruppe inicialmente recorreu ao gosto popular e criaram algo que era um “traje alemão” pelo gosto e entender do brasileiro. Só muitos anos mais tarde em 1998 se concretizou o plano de pesquisar e confecionar um traje mais autêntico possível. Em homenagem a família Rossmark, uma das famílias fundadores do CC 25 de julho, de origem da aldeia de Fröhstöckheim perto de Würzburg, escolheu-se o traje típico desta região. Assim criou-se uma relação entre o grupo e seu traje.
Em viagem para a Alemanha o casal Ziel pesquisou as peças e o feitio deste traje. E através do contato com a Trachtengruppe Geldersheim que presenteou o grupo com algumas peças originais, aprofundou-se o conhecimento sobre este traje.

Nós da Blumenauer Volkstanzgruppe vestimos a Schweinfurter Gautracht a qual é usada na região de Schweinfurt até perto de Würzburg, na baixa Francônia, norte da Baviera, sul da Alemanha. O nosso traje então é um traje popular, quer dizer, enraizado em uma certa região e época. Significa também que não era fantasia mas a roupa dos camponêses, que os diferenciava dos moradores das cidades.

Desde a idade média leis regulamentavam quais cores e materiais cada classe da população poderia vestir. Somente no início do século XVIII estas saíram de vigor e a roupa dos camponêses tornou-se mais pomposa e rica em materiais nobres como veludo, seda e passamanarias douradas.
Enquanto os homens desta região já desde 1850 começaram a deixar de usar o traje e se vestiram na maneira das cidades, o traje feminino se desenvolveu da forma antiga até a “forma nova de 1920”.
O desenvolvimento continuou até a moda das “Blusakläda” (vestido com blusa), a qual é usada em partes da população rural até hoje. Para estes ainda se aplica a denominação “traje vivo”, porque elas usam a veste própria para cada ocasião da vida. Seja no campo, na igreja, durante a semana, no culto dominical, nas altas festas e durante os tempos de luto. Esta diferenciação também é uma característica do traje típico. Não existe apenas o traje festivo e/ou traje de dança!
O nosso traje masculino é da época de 1850, quando os homens ainda usavam calça ¾ de cor amarela, colete vermelho e casacos azuis ou pretos curtos ou compridos e também o chapéu de três pontas enfeitado com adornos em cor prata ou dourado. Os sapatos eram de fivela ou bordados em gobelin. Graças ao casal Dörr de Würzburg - Alemanha, responsáveis pela manutenção dos trajes da região, foi possível reproduzir as peças históricas. Após 1850 os homens trocaram primeiro estas calças ¾ por calças compridas pretas “Röhrleshosen”, conhecidas desde a revolução francesa. Depois o casaco foi trocado pelo fraque e o chapéu de três pontas pelo cilindro. E assim se adequaram, até a virada do século 20, totalmente aos costumes da cidade. O fato que as mulheres continuavam a usar traje comprova-se atravéz de fotografias de casamentos da década 20, que monstam os homens com fraque e cilindro e as mulheres ainda com traje típico.
Do traje feminino usado na mesma época do nosso traje masculino, existem poucos exemplares preservados. Por isto o nosso grupo usa o traje da década de 20 do século passado que também representa o estado final do desenvolvimento deste traje. Após esta época também as mulheres começaram a vestir-se a modo da cidade e uma evolução natural do traje não aconteceu mais.

Este traje consiste em:
  • “Körres”, casaco de seda escura enfeitado com bordados e pas­samanarias na cor do tecido;
  • Colete de lã ou seda também ricamente bordado e enfeitado com passamanarias;
  • Blusa branca de linho ou algodão;
  • Saia larga com até 4,5 m de tecido, em preguinhas pequenas, enfeita­do com fitas de veludo e barra interna de tecido de cor contrastante ou florido;
  • Várias anáguas – de 2 a 4 - entre elas uma tipo acolchoado, que servia como armação;
  • Avental de seda com flores, tecido na técnica jaquard, com laços de amarrar coloridos;
  • Lenço de seda ou lã estampado com motivos florais e com fanjas compridas. Este lenço quadrado tem um metro e quarenta centímetros de lado e é cruzado na frente;
  • Mulheres casadas usam um capéu cônico com fitas de tafetá ou um lenço de lã na cabeça. Moças solteiras usam fitas de veludo como adorno;
  • Sapatos com tira e fivela ou também sapatos de tecido bordados.
O traje feminino se preservou até os dias de hoje e ainda se vê algumas mulheres usá-lo. Apenas o “Körres” e o lenço foram trocados por um casaco mais comfortável de lã ou veludo.
Mesmo buscando a maior autenticidade possível foi necessário fazer algumas adaptações na confecção do traje. Estas foram consequências das considerações iniciais. Sendo o clima do sul do Brasil muito mais quente do que o do norte da Baviera, buscamos substituir o tecido de lã por um tecido sintético mais leve, preservando no máximo a aparência. Substituição esta que também aumenta a durabilidade e facilita a manutenção, fato importante para um traje usado para dançar. Outras adaptações, no avental e no lenço, foram feitos por causa da inexistência de certos tecidos no mercado brasileiro. Apesar destas dificuldades tentou-se preservar sempre o aspecto orginal.

Volkstanzfest

Em nossa viagem de intercâmbio para a Alemanha e Áustria no ano de 2006 novamente nos deparamos com os ali tradicionais eventos de integração dos grupos folclóricos.

Estes eventos apresentam como característica principal a integração entre folcloristas e amigos do folclore. Ao som de música ao vivo todos participam das danças propostas, danças estas de fácil execução para todos, sendo que em várias ainda trazem a troca de parceiros promovendo uma grande integração entre os participantes. Desta forma todos são envolvidos pela dança. Alternadamente músicas sem coreografia própria permitem que todos dancem livremente pelo salão.

No Centro Cultural 25 de Julho já tivemos a oportunidade de receber grupos da Áustria que, após suas maravilhosas apresentações, nos fizeram sentir um pouco do clima que embala a Volkstanzfest.

Outro fator importante é o fato de que nesta ocasião as danças folclóricas serão executadas também por músicos da região, fomentando assim o repertório das muitas bandas que aqui temos. Como grupo folclórico vemos a necessidade de substituir o som mecânico por acordes harmoniosos vindo diretamente dos instrumentos e executados por pessoas que gostam da música que embala nossos bailes assim como a Oktoberfest.

Através da Casa de Juventude de Gramado – RS, os grupos de dança procuram, pelos cursos ali promovidos, manter seu repertório de danças dentro dos padrões contemplados nas Tanzbeschreibungen – descrições de danças.

Como na Alemanha e Áustria existem diferenças regionais muitas danças que são conhecidas e dançadas em diversos lugares diferem em alguns passos ou movimentos, sem contudo alterar a dança como todo. Estas descrições podem ser encontradas somente na língua alemã, sendo que muitas vezes isto é um empecilho para que se possa verificar a forma correta dos movimentos.

Com o intuito de facilitar a dança e assim falarmos mesma língua, queremos, para a 1.Volkstanzfest, divulgar um padrão de execução através de descrições traduzidas para o português. Estas serão entregues para os grupos com antecedência para ensaio prévio, assim tentamos evitar muitas explicações no evento. Desta forma já tem-se também o programa da Volkstanzfest em mãos, programa este que também estará à disposição nas mesas durante o evento, para que cada um possa verificar qual será a próxima dança. O grau de dificuldade de cada uma das danças constará ao lado do nome da mesma.


Neste sentido trazemos para Blumenau esta idéia de integração através da dança folclórica, resgate cultural e elo de ligação entre o o povo blumenauense e os imigrantes que fizeram desta terra a sua pátria. Para o maior sucesso desta Volkstanzfest contamos com seu precioso apoio. Assim esperamos que esta festa se torne mais um marco no calendário de eventos de Blumenau. Neste sentido queremos trazer para Blumenau esta idéia de integração através da dança folclórica, resgate cultural e elo de ligação entre o o povo blumenauense e os imigrantes que fizeram desta terra a sua pátria.

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