terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Dançar

O que é dança

„A dança pode ser considerada uma obra de arte totalizadora; pois ela engloba diversas artes: movimento, música, poesia/canto, rítmica, entre outros. Muitos pesquisadores até afirmam que o homem deve ter dançado antes mesmo de desenvolver a palavra falada. E se vermos a dança como mímica, então ela é também a mais antiga e até hoje única linguagem universal.“1
„A dança é uma manifestação de vida, um sinal da alegria e um meio de divertimento e prazer.“2

Porque dançamos

Motivos para dançar em época nenhuma faltaram. Desde os primórdios dos tempos a dança fez parte da vida, em suas formas mais variadas. Já os povos primitivos ainda nômades, tinham suas danças rituais de guerra, de agradecimento, proteção, assim como de fertilidade e caça. Estas eram fundadas na necessidade essencial do homem de enfrentar a natureza e na preservação da vida. Com a fixação do homem à terra, as necessidades mudaram e outros rituais foram introduzidos, como o pedido por boa colheita e o agradecimento pela mesma. Também danças de adoração aos astros como sol, lua, estrela tinham sua justificativa nas crenças da época. Estes eram importantes pois influenciavam o tempo, do qual por sua vez dependiam as colheitas, esseciais para a manutenção da vida. Assim provêm da crença de que imitando-se a forma redonda do sol a da lua, por exemplo, adquiria-se poder sobre os mesmos. Sentido e conteúdo da dança era ações com objetivo prédisposto. Dançando em círculo, acredi-tava-se ainda em tempos menos remotos, poderia induzir uma força ao centro deste, que influenciaria positivamente quem nele se encontrasse. Assim encontra-mos no século XIV, por exemplo, dança com velas ao redor de crianças recém nascidas, danças de ingresso em determinadas entidades na qual o novato permanecia no centro do círculo. Ainda hoje encontramos nos casamentos o costume de se fazer um círculo ao redor dos noivos na primeira valsa – a idéia é a mesma: dar força e proteção. Esta forma se perpetuou, e ainda hoje a principal forma de dança é em círculo. Na Bíblia também nos é relatado que o povo dançava em situações diversas. A mais conhecida é que Davi dançava de alegria perante o Senhor como agradecimento pelas graças recebidas3. Mas também temos o relato do povo que dançou adorando o bezerro de ouro, feito na ausência de Moisés, ao pé do monte Sinai4. E como motivo de festa e agradecimento, dançaram na volta do filho dado como perdido5. Nos Salmos 1496 e 1507, temos ainda a referência que a dança era feita ao som de diferentes instrumentos. Não encontramos passagens que apresentem os homens e mulheres dançando em conjunto.
Hoje a mística deixou de ser o único agente motivador para a dança. A dança tem como fundamento o carátel social. Dançamos pelo prazer, pela necessidade física do movimento, pela integração que ela nos trás. Mesmo assim ainda temos a dança como forma de cortejo, que nos permitem a aproximação em público, sem compromisso.

Volkstanz - como surgiu

Os primeiros registros de danças populares alemãs após a criação do Reino Alemão no século X, dão-se nos denominados Neidhartreigen do século XII. Estas danças eram dirigidas por um dançarino e sua parceira com cantos e gestos, que então eram imitados pelas pessoas que estavam dispostas em círculo ao seu redor8. Estas tinham também caráter cômico, imitando os cavaleiros em suas conquistas nas batalhas e com as mulheres. Com a introdução da dança festiva nos salões da nobreza no ano de 935 iniciou-se a divisão em danças populares e danças da corte. Os patrícios adotaram a dança de forma diferenciada com partes de prelúdio caminhados - polonaise, seguidas de partes mais movimentadas, estas inspiradas nas danças rodadas do povo. A Allemande do século XVI e XVII foi uma forma para a qual se desenvolveram estes prelúdios, enquanto que a segunda parte foi uma pré-etapa do que mais tarde ficou conhecido como valsa. O que hoje denominamos de dança folclórica são formas de dança que faziam parte da realidade do povo há muitos anos e que nos ficaram como herança, vindo a fazer parte da nossa realidade, mesmo que com outra conotação.

A dança popular na Alemanha

Na europa as duas grandes guerras enfraqueceram a cultura popular e assim também a dança. No início do século XX na Europa várias pessoas deste meio procuraram então revitalizar os conhecimentos escondidos, até como uma forma de dar a volta por cima do que havia acontecido e voltar aos „bons tempos“. Com isso inicio-se e trabalho de pesquisa e registro junto aos mais idosos e documentos esquecidos foram redescobertos. Em primeiro plano foram criadas regras bastante rígidas no que dizia respeito à forma de dança, vestimenta e até comportamento enquanto estiver usando o traje. Estas regras estavam baseadas em formas de como se pensava que havia sido em uma certa época, muitas vezes sem fundamentos históricos. Os jovens não entendiam esta necessidade de se apegar à regras, que muita vezes faziam questão de infringir. Eles dançavam pelo prazer da dança, pela vontade de aprender sempre novos movimentos, de executá-las, colocando suas habilidades à mostra, nos bailes populares. A intenção era mera diversão sem interesse no aspecto cultural. Com isso surgiu também um novo movimento, denominado de Jugendbewegung – Mobilização Jovem – que não só resgatou as danças populares mas também criou novas formas de danças com o intuito de chamar os jovens para dançar. Estas novas criações se deram aproveitando elementos existentes e integrando-os à músicas mais propícias a cairem no gosto dos jovens. A situação na Europa hoje, mais especificamente na Alemanha, é de que os jovens pouco se interessam pelas danças populares.

A dança folclórica alemã em Blumenau

O movimento de dança folclórica em Blumenau surgiu em 1984 com a fundação da Bvtg. Ligada ao Centro Cultural 25 de Julho, o Sr. Letzow, ex-presidente deste, tomou a frente e, após uma tentativa frustrada no ano anterior devido a enchente, fez nascer este trabalho de resgate da cultura. Na verdade foi de certa forma a introdução de uma „nova tradição“, até então inexistente. A dança era apenas cultivada no aspecto dos bailes populares. Neste mesmo ano surgiu também a Oktoberfest, da qual este grupo então já participou. Hoje Blumenau conta com 12 grupos de dança folclórica alemã, sendo que cada um deles têm uma filosofia diferente no que diz respeito a danças, trajes, tradições a serem cultivadas. A realidade dos grupos de dança folclórica hoje se dá muito mais nos termos do início do século XX na Europa: o jovem quer dançar, quer participar de um grupo mas vê isto como meio de lazer, não por interesse na cultura que este representa.

O que dança a Blumenauer Volkstanzgruppe

Sua primeira apresentação que aconteceu no dia 29 de Setembro de 1984 no Centro Cultural 25 de Julho, em uma noite que foi também abrilhantada por cantos e músicas – Bunter Abend. Nesta oportunidade foram apresentadas as seguintes danças: Klapptanz, 1,2,3 lustig ist die Schäferei, Fröhlicher Kreis, Zigeurnerpolka, Topporzer Kreuzpolka, Salzburger Dreher, Sternpolka, Siebenschritt e Henkenhagener Kegel.
O grupo hoje tem seu ponto forte nas danças da região sul da Alemanha – Bayern e Baden-Württemberg – assim como nas danças da Áustria. Uma dança que fez história no grupo foi o Untersteirer Landler, dança esta que por muitos anos foi parte integral do seu repertório. O nosso repertório se compõe de danças em pares, danças em círculo, em quadrilhas (4 pares) – Quadrille – além das chamadas danças de integração – Wechseltänze - danças de troca, na qual o público é convidado a participar. Na tentativa de melhorar sempre mais o nível das apresentações, buscamos material junto a grupos da Alemanha e da Áustria. O material hoje disponível consta de cerca 450 danças em CD com a descrição das mesmas, além de material de notas.

Como dançamos

Quando de fala em dança logo se associa música, essencial para que se possa dançar. No sul do Brasil há uma longa tradição de bailes, eventos de dança nos quais é indispensável a presença de uma banda que executa a música. Esta tradição, por exemplo, não se dá necessariamente nos bailes no Rio de Janeiro, onde muitos bailes são realizados com som mecânico. Infelizmente nos grupos de dança folclórica esta tradição não foi cultivada. Por motivos talvez de falta de possibilidades de se conseguir as notas específicas – músicos nunca faltaram - ou também de custos, a música para a dança foi executada através de recursos como fita K7 e mais tarde CD e MD. Este fato acabou deixando a dança folclórica ser algo um tanto estéril, pois a música se dá de forma mecânica enquanto a dança é expressão corporal humana, sujeita a variações à cada nova repetição. Além disto os dançarinos se acostumaram com sempre a mesma forma de execução, dificultando a dança com interpretações musicais diferentes. Há bastante tempo alguns integrantes do grupo já vinham estudando a possibilidade de se dançar com música ao vivo. A dificuldade maior estava em encontrar músicos que abraçassem esta idéia sem visar o lucro direto. Stefan Ziel tomou a frente desta idéia; reuniu notas e músicos e organizou os primeiros ensaios. O projeto foi se desenvolvendo, tomando formas concretas. Nos primeiros ensaios com o grupo houve certa dificuldade de conjugar a nova execução da música com os passos e figuras de dança já ensaiados, o que com a maior freqüência dos músicos foi se desfazendo. Assim mais uma vez a Blumenauer Volkstanzgruppe pôde ser um marco na história dos grupos de dança folclórica. Em junho de 2003, no 6o Festival Nacional de Danças Folclóricas de Blumenau – Fesfolk – o grupo fez a sua primeira apresentação com música ao vivo depois de muitos anos, dançando ao som de gaita, clarinete, pistão e baixo. Hoje tentamos levar nossa pequena banda para eventos maiores, pois envolve custos que não estão disponíveis facilmente. Patrocinadores, sejam bem-vindos...

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