terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Traje Folclórico

Por definição, traje é um conjunto de vestes típicas de uma região, província ou povo, que foi usado em determinada época, ou que é privativo de uma certa classe. Um traje folclórico além disso é manifestação espiritual, material e cultural do povo. Para se estudar o traje de uma região é necessário considerar todos os fenômenos sociais, pelos quais o povo desta região passou através dos tempos. Reflete-se na indumentária dos indivíduos:
  • a linha filosófica ditava a rigidez do traje tanto nas suas regras de feitio como de uso. Estes aspectos eram basicamente influenciados pela religião ou por regulamentações legais (Kleiderordnung);
  • as condições econômicas restringiam a aquisição dos tecidos nobres, a quantidade de tecido usado, quantidade de botões ou outros adornos. O traje sempre foi um símbolo do status social de seu portador;
  • fatos históricos como as invasões e a resistência dos povos na substituição de costumes introduzidos;
  • a moda que, mesmo não sendo subjugado a mudanças com ciclos anuais, algumas peças com o tempo saem de uso e outras tomam seu lugar;
  • distância e dificuldades de acesso aos mercados de importação;
  • a tecnologia da época e os conhecimentos artesanais;
  • adequação do traje às vivências, ao clima e às condições de trabalho.
Isto aplica-se especialmente para os trajes típicos alemães. Como a nação alemã é relativamente jovem (130 anos), existem muitas e fortes diferenças regionais. Um traje sempre só pode ser chamado típico para uma região relativamente pequena - geralmente só do tamanho do Médio Vale do Itajaí - e com um número bastante restrito de pessoas. Assim o traje alemão autêntico revela para o conhecedor inúmeras informações sobre seu portador:
  1. a região de proveniência
  2. a cidade/aldeia onde mora
  3. as condições econômicas atuais
  4. a posição social dentro da comunidade
  5. o estado civil (solteiro/a, casado/a, viúvo/a, viúvo/a e disposto a casar de novo)
  6. a condição de luto (Luto, meio-luto)
  7. o motivo das saída de casa (Visitar a igreja em altas festas, Culto dominical, Casamento, primeira Comunhão, Confirmação, Viagem, Trabalho, ...)
Assim se explica porque os imigrantes alemães chegaram aqui sem um “traje nacional”. Ou eles se vestiram de modo “moderno” ou com um traje que não tinha validade na realidade do mundo novo.
Com as crescentes atividades na área da dança folclórica alemã aumentou o interesse pelas tradições alemãs e especialmente por vestes adequadas para a atividade da dança. Com a tradição rompida há mais de 100 anos, muitos grupos e também a Blumenauer Volkstanzgruppe inicialmente recorreu ao gosto popular e criaram algo que era um “traje alemão” pelo gosto e entender do brasileiro. Só muitos anos mais tarde em 1998 se concretizou o plano de pesquisar e confecionar um traje mais autêntico possível. Em homenagem a família Rossmark, uma das famílias fundadores do CC 25 de julho, de origem da aldeia de Fröhstöckheim perto de Würzburg, escolheu-se o traje típico desta região. Assim criou-se uma relação entre o grupo e seu traje.
Em viagem para a Alemanha o casal Ziel pesquisou as peças e o feitio deste traje. E através do contato com a Trachtengruppe Geldersheim que presenteou o grupo com algumas peças originais, aprofundou-se o conhecimento sobre este traje.

Nós da Blumenauer Volkstanzgruppe vestimos a Schweinfurter Gautracht a qual é usada na região de Schweinfurt até perto de Würzburg, na baixa Francônia, norte da Baviera, sul da Alemanha. O nosso traje então é um traje popular, quer dizer, enraizado em uma certa região e época. Significa também que não era fantasia mas a roupa dos camponêses, que os diferenciava dos moradores das cidades.

Desde a idade média leis regulamentavam quais cores e materiais cada classe da população poderia vestir. Somente no início do século XVIII estas saíram de vigor e a roupa dos camponêses tornou-se mais pomposa e rica em materiais nobres como veludo, seda e passamanarias douradas.
Enquanto os homens desta região já desde 1850 começaram a deixar de usar o traje e se vestiram na maneira das cidades, o traje feminino se desenvolveu da forma antiga até a “forma nova de 1920”.
O desenvolvimento continuou até a moda das “Blusakläda” (vestido com blusa), a qual é usada em partes da população rural até hoje. Para estes ainda se aplica a denominação “traje vivo”, porque elas usam a veste própria para cada ocasião da vida. Seja no campo, na igreja, durante a semana, no culto dominical, nas altas festas e durante os tempos de luto. Esta diferenciação também é uma característica do traje típico. Não existe apenas o traje festivo e/ou traje de dança!
O nosso traje masculino é da época de 1850, quando os homens ainda usavam calça ¾ de cor amarela, colete vermelho e casacos azuis ou pretos curtos ou compridos e também o chapéu de três pontas enfeitado com adornos em cor prata ou dourado. Os sapatos eram de fivela ou bordados em gobelin. Graças ao casal Dörr de Würzburg - Alemanha, responsáveis pela manutenção dos trajes da região, foi possível reproduzir as peças históricas. Após 1850 os homens trocaram primeiro estas calças ¾ por calças compridas pretas “Röhrleshosen”, conhecidas desde a revolução francesa. Depois o casaco foi trocado pelo fraque e o chapéu de três pontas pelo cilindro. E assim se adequaram, até a virada do século 20, totalmente aos costumes da cidade. O fato que as mulheres continuavam a usar traje comprova-se atravéz de fotografias de casamentos da década 20, que monstam os homens com fraque e cilindro e as mulheres ainda com traje típico.
Do traje feminino usado na mesma época do nosso traje masculino, existem poucos exemplares preservados. Por isto o nosso grupo usa o traje da década de 20 do século passado que também representa o estado final do desenvolvimento deste traje. Após esta época também as mulheres começaram a vestir-se a modo da cidade e uma evolução natural do traje não aconteceu mais.

Este traje consiste em:
  • “Körres”, casaco de seda escura enfeitado com bordados e pas­samanarias na cor do tecido;
  • Colete de lã ou seda também ricamente bordado e enfeitado com passamanarias;
  • Blusa branca de linho ou algodão;
  • Saia larga com até 4,5 m de tecido, em preguinhas pequenas, enfeita­do com fitas de veludo e barra interna de tecido de cor contrastante ou florido;
  • Várias anáguas – de 2 a 4 - entre elas uma tipo acolchoado, que servia como armação;
  • Avental de seda com flores, tecido na técnica jaquard, com laços de amarrar coloridos;
  • Lenço de seda ou lã estampado com motivos florais e com fanjas compridas. Este lenço quadrado tem um metro e quarenta centímetros de lado e é cruzado na frente;
  • Mulheres casadas usam um capéu cônico com fitas de tafetá ou um lenço de lã na cabeça. Moças solteiras usam fitas de veludo como adorno;
  • Sapatos com tira e fivela ou também sapatos de tecido bordados.
O traje feminino se preservou até os dias de hoje e ainda se vê algumas mulheres usá-lo. Apenas o “Körres” e o lenço foram trocados por um casaco mais comfortável de lã ou veludo.
Mesmo buscando a maior autenticidade possível foi necessário fazer algumas adaptações na confecção do traje. Estas foram consequências das considerações iniciais. Sendo o clima do sul do Brasil muito mais quente do que o do norte da Baviera, buscamos substituir o tecido de lã por um tecido sintético mais leve, preservando no máximo a aparência. Substituição esta que também aumenta a durabilidade e facilita a manutenção, fato importante para um traje usado para dançar. Outras adaptações, no avental e no lenço, foram feitos por causa da inexistência de certos tecidos no mercado brasileiro. Apesar destas dificuldades tentou-se preservar sempre o aspecto orginal.

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